O azar do “Baiano” era ser pobre

Terça passada, dia 11, Edvaldo Santos Gonçalves, levou várias pauladas na cabeça durante um assalto a menos de 100 metros da sua casa na Vila Menino Jesus. Foi atendido na Fusam e mandado para casa com um curativo na cabeça. Ontem, dia 18, pela manhã quando a netinha foi chamar Edvaldo para tomar café viu o avô sentado no sofá sem respirar. Baiano, como era conhecido, estava morto.

O barbeiro Baiano era muito conhecido na Vila Menino Jesus. Seu nome de batismo: Edvaldo Santos Gonçalves, 55 anos nas costas. Quatro filhos criados, estava separado da mulher.
Baiano tirava o sustento de um pequeno salão onde cobrava de 3,50 a 4 reais por um corte de cabelo. No final do mês não sobrava nada, mas dava para pagar as contas e criar um canário da terra e um curió.
Terça passada, dia 11, um nóia esteve no seu salão pedindo dinheiro. Segundo a filha que morava com ele, Ednilma Gonçalves, “o pai tinha o defeito de tratar bem todo mundo. Gente boa e gente ruim”. O nóia contou alguma história e pediu para que os dois fossem até um galpão abandonado a menos de 100 metros dali. Era uma armadilha. Baiano foi abatido a pauladas e pedradas. O nóia pegou R$ 180 que o barbeiro tinha no bolso e desapareceu.
Baiano conseguiu se arrastar até o portão de casa. Uma vizinha viu e chamou os parentes que estavam no trabalho. Veio até a polícia, mas a ambulância não. Insistiram várias vezes. A única solução foi levar Edvaldo de viatura para o pronto socorro.
Edvaldo teve traumatismo craniano, escoriações no braço e nas costas. “O atendimento na Fusam foi péssimo. Vi meu pai sendo tratado como indigente. Fizeram um RX e um curativo na cabeça e mandaram a gente embora. Pedi novamente uma ambulância e eles disseram que não tinha. Fui carregando meu pai até o ponto de ônibus da Matriz. Mas o motorista não deixou ele subir no ônibus pelo estado que ele estava”, descreveu a filha Ednilma.
Quantas coisas devem ter passado na cabeça do Baiano nesse momento. Junto com a dor das pauladas, certamente ele deve ter pensado como tudo seria diferente se ele não fosse pobre. Mal sabia o humilde barbeiro que as coisas só iriam piorar dali para frente.
As dores aumentaram, até que na quinta-feira retornou a Fusam. Novo chá de banco, novo atendimento que segundo ele “não serviu para nada”. Na ocasião, relata Ednilma, “ele tomou uma injeção vermelha. O local da injeção inchou no mesmo dia. O inchaço foi se espalhando pelo braço que começou a ficar roxo. Mas o pai não quis voltar na Fusam. Pra que?”.  
A agonia de Baiano só terminou nesta terça, dia 18, exatamente uma semana depois de receber as pauladas e de não receber o atendimento médico que deveria. Morreu sentado no sofá sob o olhar da neta que nem imagina como é difícil e sofrida a vida de quem é pobre. (Sergio Borges)